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Curly aos Bocadinhos

Curly aos Bocadinhos

Atinar com a digestão

Quando habitava a minha barriga, Petit Me tinha soluços praticamente todos os dias, por vezes mais do que uma vez.

Chegado cá fora, Petit Me tem soluços praticamente todos os dias e, alguns dias, mais do que uma vez.

Não sei como ele resolvia o assunto lá dentro. Eu cá de fora achava graça e punha a família toda a sentir o soluçar. Porque era giro!

Cá fora, ele não acha graça nenhuma. Aborrece-se, choraminga e fica cansado. Shame on me!

 

Coitadito, ainda tem de aprender a comer. Por vezes mama pouco, porque adormece a mamar e depois a coisa não é suficiente. E não sossega, não pega no sono a sério e chateia-se. E quer voltar à mama, mas depois volta a adormecer. Mas aquele sono parvo, intermitente, de quem não está de barriguita cheia. Quando mama bem, anda aqui aos saltos entre o bolçar, o arrotar, os soluços e engasgar-se com o leite que lhe vem à boca. Sendo que às vezes está ferrado a dormir e fica com soluços. Fica tão bem disposto como se fosse eu a acordá-lo com uma banhoca de água fria ou assim.

 

Felizmente, já vai tendo algumas refeições em que mama o suficiente e consegue dormir sossegado umas três horas sem incómodos digestivos.

 

Portanto, isto ainda é normalmente um corropio ao redor deste pequenito.

Mas é giro. É tão giro este rapazinho!

 

 

 

 

 

...

Há pessoas que dizem "Ai, Jesus, que dei um espilrro!".

Espilrro, do verbo Espilrrar!

E como têm crianças, estas ouvem e a seguir dizem "Pois foi, mãe, espilrrastes!"

Brilliant!

 

Evoluções

Quando a Madalena nasceu, os protocolos hospitalares em relação a recém-nascidos e ao puerpério eram:

 

- Banho só depois de cair o cordão umbilical; até lá era dar uns banhos à gato, com umas esponjas próprias ou toalhitas. Já a Madalena tinha quase duas semanas quando finalmente consegui deixar-lhe o cabelo limpo, sem restos do parto;

-  Dar de mamar tinha de ser de três em três horas; se o bebé não tivesse acordado, tinhamos de o acordar (o que o deixava sempre muito contente) e deixar passar cinco minutos da hora dava direito ao sermão sobre mães burras negligentes;

- Obrigatório esterilizar chuchas, biberões e tetinas;

- Entregar à mãe uma lista infindável de alimentos proibidos ou limitados durante o período de amamentação;

- Pílula da amamentação começar a tomar só um mês depois do parto e retomar a vida sexual só um mês e meio depois.

 

 

O Marcos nasceu por altura de recomendações fresquinhas da Organização Mundial de Saúde:

 

- Banho logo no dia a seguir ao nascimento, com cordão umbilical e tudo; chegaram à conclusão que o banho não tem impacto e só ajuda ao bebé a sentir-se melhor por ficar mais lavadinho;

- Regime de amamentação livre. Em momento algum me entraram pelo quarto dentro a perguntar a que horas tinha mamado e quanto tempo, de modo a controlar quanto tempo tinha passado. Apenas me perguntavam de vez em quando se ele mamava bem, do mesmo modo como perguntavam se ele fazia bem as necessidades fisiológicas. Mas não queriam saber quantas vezes e a que horas mamava.

- Não se devem esterilizar chuchas, biberões e tetinas. Chegaram à conclusão que basta passá-los por água quente da torneira durante uns minutos. Esterilizar impede as crianças de ganharem as suas defesas.

- Não há cá lista de alimentos proibidos ou limitados durante a amamentação. Apenas há uma regra: usar o bom senso. Pode comer-se de tudo, mas com moderação (o que se recomenda para qualquer pessoa "normal"). Apenas o alerta de durante o primeiro mês do bebé evitar comer marisco, morangos, kiwis e laranjas, por haver maiores probabilidades de alergias ou intoxicações e pelo facto de ainda ser tudo muito imaturo no bebé. De resto, obviamente evitar alcóol. Café, chocolate ou outros doces, com certeza, mas a tomá-los fazê-lo logo a seguir a dar de mamar, de modo ao organismo processar  os alimentos até à próxima hora de comer do bebé;

- Começar a pílula da amamentação ao fim de quinze dias e retomar a vida sexual quando a mãe se sentir preparada para tal.

 

Confesso que já quando a Madalena nasceu, fiz muitas coisas de acordo com as novas recomendações da OMS, com excepção do banho antes de cair o cordão umbilical. Enquanto estivémos na maternidade, que remédio tinha eu senão dar-lhe de mamar de acordo com o relógio da parede, antes que entrasse o general de bata branca a refilar. Em casa, a coisa primava pelo regime livre também e acho que não correu mal.

Acho que estas novas indicações fazem mais sentido. Há que ter cuidados, com certeza, mas não é preciso cair em extremismos. Encarar as coisas de forma mais natural parece-me mais correcto. A existência de certas restrições e pressões acaba por não ser nada produtivo e só ajuda a ter mamãs e bebés ansiosos, o que se dispensa.

...

Ter na agenda hoje uma ida ao supermercado para umas compritas e um cafézito com amigos deixa-me histérica como se fosse uma saída de saltos altos e vestido de noite a uma qualquer festa chique com o maridão! É o que dá a claustrofobia, baixa-nos as expectativas... :)

...

Estar em Abril é: estender roupa e logo a seguir desatar a chover, de maneiras que a roupa ali fica com um ar aborrecido como quem diz "não foi para isto que me puseram aqui"; estender a roupa do bebé dentro de casa; ligar todos os dias o aquecimento central pelo menos uma hora à tarde, porque os quartos estão gelados e na sala também não se está confortável, e depois mais um bocado sempre que é altura de dar banho à cria; aproveitar o quentinho do radiador para acelerar o processo de enxugar a roupa do bebé; sentar no sofá só com a manta quentinha que veio cá para casa por alturas do Natal; ainda só ter saído de casa uma vez desde o regresso da maternidade, numa corrida ao Centro de Saúde, aos zigue-zagues a fugir das gotas de chuva.

 

Ah e tal, vou ter um bebé de Primavera! Que bom!

Ah e tal, vou ter um bebé de Primavera e dar muitos passeios para aproveitar o solinho!

O catano!

Eu sei que em Abril, águas mil e outros lamirés antigos, mas não era preciso estar este frio a acompanhar.

Vai que ainda me dá um fanico e peço ao Semi-Deus para voltar a usar a lareira!

Pois, isto no Inverno é que foi bom para ter bebés este ano .

Boa sorte para o Verão.

 

O S. Pedro já se reformava, se calhar, não? [mas agora, coitado, também apanhou de surpresa com isto da proibição das reformas antecipadas e encolheu-se...aqui a malta é que se lixa!]

 

 

 

 

...

Ontem foi dia de balança, para o bebé e para mim.

E foi um bom dia das balanças.

A do bebé marcou um belo aumento de peso.

A da mamã marcou uns belos 10kgs a menos.

 

E pronto, apetecia-me ir perguntar ao OB se afinal a minha teoria do bebé grande, mais a placenta e o líquido, e alguma possível retenção de líquidos era assim tão parola. Porque ele achava mais giro dizer que eu era uma enfardadeira, mas é. E eu dizia-lhe que não. E agora até como mais do que na gravidez, porque amamentar faz-me ter fome e sede, muita sede. E como já não há cá azias, consigo comer normalmente em todas as refeições.

 

E era isto.

 

 

Do pós-parto...

- Continuo a desviar-me de "obstáculos", como se ainda tivesse barrigão (no outro dia dei por mim a mexer a comida no tacho e a estender roupa de braço esticado, com a barriga longe da bancada e do parapeito da janela, respectivamente);

 

- De quando em vez tombo para o lado (até aqui era por causa do barrigão, agora é por falta dele - urge redescobrir o centro de gravidade);

 

- Ainda não me habituei ao novo volume das Margaridas;

 

- Às vezes a dormir viro-me de barriga para cima e depois acordo sobressaltada com o alarme no cérebro que me diz que o bebé não deve estar a gostar da posição;

 

- Hoje conduzi pela primeira vez desde que dei à luz e quando dei conta ia a puxar constantemente o cinto de segurança para não me apertar a barriga.

 

 

Pois, o meu cérebro precisa de mais uns dias para perceber as mudanças e fazer um reset ao sistema!

 

...

As minhas crias não se fizeram para serem deixadas sossegaditas num berço, especialmente quando são muito pequeninas, sozinhas no quarto, em todas as sonecas. Gostam da nossa companhia, de nos sentir por perto, de nos ouvir, mesmo quando dormem profundamente. Ainda bem. Eu também gosto que estejam à distância de os cheirar! Eu cá sou apologista do mimo. Para mim, mimar não é nem tem de ser algo de depreciativo. Para mim, mimar é dar afecto, é dar colo, é dar conforto. Depois vêm as adeptas das teorias do não se deve dar demasiado mimo às crianças. Ora essa! Se não for quem as ama a dar mimo quem vai ser? As crianças precisam de mimo, sim. Precisam de sentir que são amadas e acarinhadas. E que podem correr para o nosso colo sempre que precisam. Mas se calhar é a minha definição de mimo que está errada.

 

Há as teorias - muito modernas - da independência do recém-nascido. O recém-nascido já vem cheio de manhas e manias e, portanto, assim que nasce o nosso papel é tirar-lhes essas manhas e manias. Não há cá colos, nem carícias. Colo é apenas para o essencial do dar de mamar (quando a moderna teoria o permite, porque há vertentes que defendem que dar mama é coisa de plebe e venha é o biberão, que isso é que é bom). Dormir, é forçosamente no seu berço, desde o primeiro minuto. E, de preferência, se aos dois meses já puderem estar sozinhos num quarto próprio, perfeito. Já agora, podiam vir já com o curso superior tirado, que dava menos trabalho, verdade?

 

As minhas crias só não são lambidas, como fazem alguns animais, porque não calha.

Mas são beijadas, muito beijadas. Sou melga dos afectos. Gosto de as tocar, e acariciar, e abraçar.

Não se fazem seres perfeitinhos, com bochechas apetitosas só para encher a vista.

Há pessoas que parece que têm nojo de tocar num bebé. Nojo? Um bebé é uma complexa mistura das células da mãe com as células do pai. Vivem dentro de uma mãe durante 9 meses. E depois parece que há quem as repudie, como se não existisse qualquer ligação de afecto. Nada melhor para deixar um bebé em stress.

 

Um recém-nascido não tem manhas. Viveu durante 9 meses dentro de um ambiente protegido, com sons abafados do exterior, e encostado ao coração da mãe, que é o seu compasso durante todo esse tempo. Será de estranhar que quando chega cá fora se sinta abalado nos primeiros dias? E goste de companhia, de calor, de afecto? Eu acho que não. Acho que de carinho gostamos todos. Eu também gosto de mimo. Já dizia alguém que "de festas até os cães gostam".

 

Já a minha cria mais velha não ficava no berço sozinha no quarto quase nunca durante o dia. Não é que tivesse de estar ao colo, mas tinha de estar perto de mim. Na alcofa, no sofá onde fosse, mas se eu passava a maior parte do dia na sala, era lá que ela dormia durante o dia. No quarto só quando eu lá estava.

 

Esta cria pequenita que tenho aqui agora é igual. O berço quase ainda não o usou. Fica lá pouco tempo, choraminga, não sossega, se consegue fechar os olhitos é por breves momentos, mas não entra no soninho bom que precisa. Passa os dias deitadinho no sofá, perto de nós e é aí que dorme umas belas sonecas de 3 horas. As noites, passa bocadinhos no berço, mas reconforta-se quando o deitamos na cama connosco, e se enrosca em mim.

 

É manha? Eu acho que é necessidade de conforto. Dirão alguns que é um mau princípio, que lhe estou a incutir maus valores. Pois sim, eu acho que um bebé que ainda passa os dias a dormir e a mamar, com intervalos para um xixi e um cocó, está muito atento às minhas teorias sobre os valores da vida. É preciso deixar os dias passar para que se sintam mais à vontade neste mundo estranho onde os inserimos e, naturalmente, passam a reagir melhor a progressivos aumentos de distância do bater do coração que melhor conhecem.

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