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Curly aos Bocadinhos

Curly aos Bocadinhos

Leitura Terminada

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Ontem à noite literalmente empatei as últimas 20 páginas do livro. Fui lendo devagar, até perceber que tinha mesmo de ir dormir (sob pena de não acordar de manhã) e que tinha de terminar a leitura. Mas não queria terminar. Neste momento sinto-me órfã de livros, como se as dezenas que tenho na estante em lista de espera se tivessem evaporado.

 

Se tivesse de descrever este livro numa palavra…magistral!

 

Este autor é incrível! Como é que este homem consegue escrever um livro com mais de 800 páginas (e letra pequena) e uma pessoa pega nele e, do início ao fim, não há um momento aborrecido? Era difícil decidir onde parar de ler (quando tinha mesmo de ser).

 

Este livro conclui a saga iniciada com A Sombra do Vento. Se a Sombra do Vento foi, na minha opinião, o melhor livro dos quatro (com isto não querendo dizer que algum dos outros é mau), não se pode de forma alguma tirar o mérito que este livro tem.

 

Neste livro atam-se finalmente todas as pontas deixadas soltas nos outros três livros. Finalmente é relevada toda a trama, tudo faz finalmente sentido, mas, apesar de ser um livro mais descritivo e menos mirabolante, é um livro fantástico na forma como toda a descrição é feita e na forma como se completam todas as personagens e as suas histórias dentro da história.

 

Carlos Ruiz Zafón é um verdadeiro maestro da escrita e deixa-nos ali como meros fantoches que são conduzidos pela sua batuta e se deixam enredar nas maravilhas das suas palavras e frases tão bem feitas. Tem o nível de intriga certo, o nível de suspense certo e é mesmo, mesmo bom!

 

Que saudades tinha do Fermín Romero de Torres! Acho que vai ser aquela personagem saída de um livro impossível de esquecer. Cada vez que há um diálogo com ele, é de rir a bom rir com as suas tiradas. É a melhor personagem construída nestes quatro livros. Uma personagem que não me importava que aparecesse noutros livros só para me poder rir com ele.

 

Foi maravilhoso voltar ao Cemitério dos Livros Esquecidos e adorei o final do livro! Foi perfeito!

 

Esta foi a primeira leitura do ano, mas vai ser muito difícil superá-la!

 

O autor desta saga é o próprio a referir que podemos ler qualquer um dos livros individualmente, sem qualquer ordem, porque cada um encerra uma história própria. O que até é verdade. Mas não façam isso! Não deixem de começar por A Sombra do Vento, de ler O Jogo do Anjo, O Prisioneiro do Céu e depois este. É porque se só lerem este livro já ficam ricos. Mas se lerem os quatro ficam milionários...

 

Confesso que neste momento me sinto angustiada porque não tenho mais livros de Zafón para ler. Acho que vou ter de chatear o senhor no Facebook, para que se apresse a escrever mais livros!

 

***

Algumas frases do livro que não resisto a partilhar convosco:

 

"As recordações que enterramos no silêncio são as que nunca deixam de nos perseguir."

 

"Uma lenda é uma mentira inventada para explicar uma verdade universal. Os lugares onde a mentira e a miragem envenenam a terra são terreno fértil para o seu cultivo."

 

"O homem sábio é aquele que não acorda vulcões, revoluções ou fémeas grávidas" (um pensamento de Fermín)

 

"A vida, dizia-se, é uma estação de comboios em que uma pessoa quase sempre sobe, ou é obrigada a subir, para a carruagem errada."

 

" - Com o desconto da casa, fica em...

  - Sem desconto, por favor. Gastar dinheiro em livros é um prazer que não quero que me cortem."

 

"A eloquência de uma exposição é directamente proporcional à inteligência de quem a formula, do mesmo modo que a sua credibilidade o é à estupidez daquele a quem é dirigida."

 

"A felicidade, ou o mais parecido com ela a que pode aspirar qualquer criatura pensante, a paz de espírito, é o que se evapora no caminho que vai do acreditar ao saber."

 

" - Há que ler, Fernandito, que nem tudo na adolescência é agitá-la como um macaco." (Fermín)

 

" - (...) Aprender a diferenciar entre a razão por que fazemos as coisas e a razão por que dizemos fazê-lo é o primeiro passo para nos conhecermos a nós mesmos. E daí a deixar de ser um cretino é um pulo. (Fermín)

 - Fala como um livro, Fermín.

 - Se os livros falassem não haveria tanto surdo por aí." (Fermín)

 

" - (...) Ressuscitar é um pouco como andar de bicicleta ou desapertar o soutien de uma miúda só com uma mão. É tudo uma questão de apanhar-lhe o jeito." (Fermín, claro)

 

"Por vezes, quando os deuses não estão a olhar e o destino se perde pelo caminho, até as boas pessoas têm um pouco de sorte na vida."

 

"Uma história não tem princípio nem fim, só portas de entrada.

Uma história é um labirinto infinito de palavras, imagens e espíritos esconjurados para nos revelar a verdade invisível a respeito de nós mesmos. Uma história é, em última análise, uma conversa entre quem a narra e quem a escuta, e um narrador só pode contar até onde lhe chega o ofício e um leitor só pode ler até onde leva escrito na alma."

 

"Carax tinha-me ensinado que um livro nunca se acaba e que, com sorte, é ele que nos abandona para não passarmos o resto da eternidade a reescrevê-lo."

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