Quando a Madalena nasceu, tinhamos um cão na família, que vivia com os meus pais. Um cão mimado, muito ciumento (especialmente com a minha mãe), friorento, comilão e melga, muito melga, sempre a pedir festas e a dar beijinhos. A primeira roupa da Madalena foi-lhe dada a cheirar para que a ficasse a conhecer ainda antes de ela entrar lá em casa. Quando lá entrou estranhou-a, cheirou-a e mostrou-se indiferente, e a seguir sentou-se no colo da minha mãe a dar-lhe lambidelas, a mostrar quem mandava. Quando a ouvia chorar, ia cheirá-la e depois virava-lhe costas, mas aos poucos passou a cheirá-la, a dar-lhe uma lambidela (sempre nas mãos) e a ficar perto dela, um pouco mais de cada vez. O tempo passou, e se primeiro estranhou, depois entranhou. A Madalena e o Kypper eram grandes amigos, dividiam comida (ele comia tudo o que viesse da mão dela), ele deixava que ela lhe puxasse o rabo, as orelhas e metesse o dedo no olho e ela deixava que ele abancasse em cima dela.
Um dia o Kypper foi-se embora, ficou velhinho e a Madalena perdeu esse amigo. Mais ou menos por essa altura, a Madalena, que estava habituadíssima ao Kypper, a outros cães e até a gatos, entrou na fase do ter medo de cães, de gatos e de quase todos os animais. Fruto da idade, talvez; influência de alguém, quem sabe.
A mãe do Semi-Deus tem 4 cadelitas rafeiras, que a Madalena conhece desde pequena, brincou com elas e depois passou a morrer de medo delas. Para entrar lá em casa as cadelitas tinham de ser fechadas numa parte do quintal e se estivessem soltas ela não saía lá de casa. Um pânico! Nem mesmo quando lá esteve a prima mais pequenita, que adora animais e passa o dia no quintal a brincar com as bichanas. A mesma fita com qualquer cão ou gato que passasse por ela na rua. No Badoca Park achava muita graça a tudo desde que estivesse longe, depois quis ir connosco dar comida aos Lémures, mas quando se viu dentro do recinto foi um stress, entrou em pânico, chorou e só queria sair dali para fora. Dizia que lhe iam fazer mal, com as suas grandes patas e unhas e bocas (?). Também quis assistir ao show das aves de rapina, mas depois começou a chorar por causa dos voos rasantes e da proximidade a que eram colocadas dos nossos pés.
O tempo foi passando e, porque também já fui muito medrosa com animais sei que precisamos de tempo para recuperar dos medos e quanto mais nos pressionam pior, apenas lhe iamos explicando que os animais são amigos, não fazem mal, é preciso termos alguns cuidados, claro, mas muitas vezes os animais só fazem mal se sentirem medo ou se lhes fizermos mal.
Aqui há uns tempos, começámos a ver o "Dog Whisperer" com o Cesar Millan na SIC Mulher, se não estou em erro. Apesar de ser dobrado (parece que agora já deixou de ser, felizmente) adoramos ver por causa dos cães, naturalmente. A Madalena começou sorrateiramente a sentir-se interessada pelo programa, a perguntar quando dava e a vir sentar-se muito animada ao pé de nós para assistir. Umas vezes fazia muitas perguntas, outras vezes ficava muito atenta e pensativa.
Um destes fins-de-semana fomos ao café na praia e a mãe do Semi-Deus foi ter connosco. E decidiu levar uma das cadelitas pela trela. Eu quando a vi chegar pensei que a Madalena ia fazer uma fita descomunal por causa do animal. Enganei-me e surpreendi-me! Eu e o Semi-Deus assistimos à Madalena a querer pegar na trela e ir passear a cadela, a fazer-lhe festas, a querer tê-la ao colo. Caiu-nos o queixo!
Este fim-de-semana passou uma noite em casa da mãe do Semi-Deus e quando lá chegámos no dia seguinte, tinham ido as duas alegremente ao café, cada uma com a sua cadelita pela trela. E a Madalena estava perfeitamente à vontade com as duas. Ainda mostrou receio quando lhe perguntámos se então podiamos soltar todas, para virem brincar com as amiguinhas. Disse que tinha medo da maior. Expliquei-lhe que era maior, mas era a mais meiguinha e mais submissa, por ser muito medrosa (alguém a maltratou bastante anteriormente). Lá acedeu e foi vê-la o resto do dia a brincar no quintal com as cadelas, 4x4 patas aos saltos, à volta e em cima dela, e muitas lambidelas. E ficou cheia de pena de virmos embora. E quer voltar rapidamente para ir brincar com elas.
Não é por nada, mas acho que ter visto aquele programa televisivo a fez pensar, a fez perceber alguma coisa sobre os cães e sobre como lidar com eles. E a mãe do Semi-Deus foi uma mestra de intuição ao ter escolhido levar a cadelita à praia. Mesmo na altura certa!
E é tão melhor vê-la brincar alegremente com os animais!
Quem sabe numa próxima ida ao Badoca Park ela finalmente desfrute do prazer que é dar frutinha aos Lémures ou de nos passar um falcão peregrino em alta velocidade junto às orelhas!