As minhas crias não se fizeram para serem deixadas sossegaditas num berço, especialmente quando são muito pequeninas, sozinhas no quarto, em todas as sonecas. Gostam da nossa companhia, de nos sentir por perto, de nos ouvir, mesmo quando dormem profundamente. Ainda bem. Eu também gosto que estejam à distância de os cheirar! Eu cá sou apologista do mimo. Para mim, mimar não é nem tem de ser algo de depreciativo. Para mim, mimar é dar afecto, é dar colo, é dar conforto. Depois vêm as adeptas das teorias do não se deve dar demasiado mimo às crianças. Ora essa! Se não for quem as ama a dar mimo quem vai ser? As crianças precisam de mimo, sim. Precisam de sentir que são amadas e acarinhadas. E que podem correr para o nosso colo sempre que precisam. Mas se calhar é a minha definição de mimo que está errada.
Há as teorias - muito modernas - da independência do recém-nascido. O recém-nascido já vem cheio de manhas e manias e, portanto, assim que nasce o nosso papel é tirar-lhes essas manhas e manias. Não há cá colos, nem carícias. Colo é apenas para o essencial do dar de mamar (quando a moderna teoria o permite, porque há vertentes que defendem que dar mama é coisa de plebe e venha é o biberão, que isso é que é bom). Dormir, é forçosamente no seu berço, desde o primeiro minuto. E, de preferência, se aos dois meses já puderem estar sozinhos num quarto próprio, perfeito. Já agora, podiam vir já com o curso superior tirado, que dava menos trabalho, verdade?
As minhas crias só não são lambidas, como fazem alguns animais, porque não calha.
Mas são beijadas, muito beijadas. Sou melga dos afectos. Gosto de as tocar, e acariciar, e abraçar.
Não se fazem seres perfeitinhos, com bochechas apetitosas só para encher a vista.
Há pessoas que parece que têm nojo de tocar num bebé. Nojo? Um bebé é uma complexa mistura das células da mãe com as células do pai. Vivem dentro de uma mãe durante 9 meses. E depois parece que há quem as repudie, como se não existisse qualquer ligação de afecto. Nada melhor para deixar um bebé em stress.
Um recém-nascido não tem manhas. Viveu durante 9 meses dentro de um ambiente protegido, com sons abafados do exterior, e encostado ao coração da mãe, que é o seu compasso durante todo esse tempo. Será de estranhar que quando chega cá fora se sinta abalado nos primeiros dias? E goste de companhia, de calor, de afecto? Eu acho que não. Acho que de carinho gostamos todos. Eu também gosto de mimo. Já dizia alguém que "de festas até os cães gostam".
Já a minha cria mais velha não ficava no berço sozinha no quarto quase nunca durante o dia. Não é que tivesse de estar ao colo, mas tinha de estar perto de mim. Na alcofa, no sofá onde fosse, mas se eu passava a maior parte do dia na sala, era lá que ela dormia durante o dia. No quarto só quando eu lá estava.
Esta cria pequenita que tenho aqui agora é igual. O berço quase ainda não o usou. Fica lá pouco tempo, choraminga, não sossega, se consegue fechar os olhitos é por breves momentos, mas não entra no soninho bom que precisa. Passa os dias deitadinho no sofá, perto de nós e é aí que dorme umas belas sonecas de 3 horas. As noites, passa bocadinhos no berço, mas reconforta-se quando o deitamos na cama connosco, e se enrosca em mim.
É manha? Eu acho que é necessidade de conforto. Dirão alguns que é um mau princípio, que lhe estou a incutir maus valores. Pois sim, eu acho que um bebé que ainda passa os dias a dormir e a mamar, com intervalos para um xixi e um cocó, está muito atento às minhas teorias sobre os valores da vida. É preciso deixar os dias passar para que se sintam mais à vontade neste mundo estranho onde os inserimos e, naturalmente, passam a reagir melhor a progressivos aumentos de distância do bater do coração que melhor conhecem.