Daqui a precisamente um mês vou voltar a sentar a peidola o dia todo no aquário, envolta em papéis, leituras, escrita e assim. Acaba-se a "rica vida", as "grandes férias" e volta-se ao trabalho, que é para isso que me pagam. E é daqui a um mês porque juntei uns diazitos de férias ao fim da licença de maternidade. Porque senão, dia 6 de Setembro já lá estava. Mas assim ainda tenho mais uns dias para estar em casa com o Petit Me. E ainda vai dar para mais uns dias de férias em família, antes de a pequenada voltar também para os seus aquários estudantis. E quando eu voltar para o aquário, Petit Me ainda tem umas semanitas para passar em exclusivo com o seu papá. Que se vai entreter com mudas de fralda, dar papa, embalar para dormir, brincar, passear e essas coisas boas.
Neste último mês, para além de namorar muito este bebé, que é giro que se farta, muito simpático, risonho e conversador, tenho de aproveitar para fazer umas últimas organizações, porque depois de entrar na rotina é muito mais difícil.
É por esta altura que uma pessoa dá por si com mixed feelings. Por um lado, já se está há demasiado tempo em casa, as conversas são sobre papa, leite, cócó, xixi e óó, e apesar de se ter um bebé calminho e se conseguir dar umas voltinhas e assim, já se sente o atrofio mental de não se fazer nada de útil para lá de cuidar da casa e de um bebé, e de não se ter conversas de adultos, e sobre temas que não sejam assuntos familiares. E sentimos essa necessidade de sermos algo mais do que mamãs.
Por outro lado, é assustador a velocidade a que o tempo passa. De vez em quando volto atrás no calendário e certifico-me de que não se saltou aqui um mês ou dois, porque parece que ainda anteontem era Março e eu andava a tropeçar na minha própria barriga à espera que Petit Me decidisse nascer, e ontem era Abril e Petit Me chegava. Mas não. Estive a contar e os dias já passaram todos, e as semanas e os meses. E só falta mesmo um mês.
Há vários momentos na vida de uma criança em que é feito um corte do cordão umbilical. Um é verdadeiramente visceral e literalmente corta-se o cordão umbilical, que prendeu um bebé dentro de nós durante 9 meses. Agora nasceste, respira sozinho e separa-te fisicamente da tua mãe. Mas esta separação não se dá por completo. Porque é mais do que uma coisa física, do que um bocado de tecido que se corta, seca, e deita fora. É uma ligação para a vida. Uma ligação que roça o irracional, não se explica e sente-se para lá do físico.
Um dia temos de voltar ao emprego, depois de cerca de 5 meses a cuidar diariamente do bebé. E dá-se mais um corte.
Depois eles vão para uma creche ou ama. Mais um corte.
Um dia entram para a pré-escola. Mais uma tesourada.
Logo a seguir entram para a escola primária. E mais uma fase, mais um passo no crescimento. Mais uma tesourada.
E por aí fora.
São muitas as tesouradas que se vão dando, mas nenhuma delas é final. Eles crescem, mas o cordão umbilical é tão grande e forte que nunca se dá a separação total. Apenas fica mais curto, para que cada vez mais consigam ganhar autonomia e tornarem-se pessoas fantásticas. Mas serão sempre parte de nós, sangue do meu sangue, carne da minha carne, corpo do meu corpo.
Um filho é para a vida. E não é só porque precisamos de cuidar deles, de ter preocupações, chatices, alegrias, tristezas com eles. É porque serão sempre um bocado de nós.