Sempre me lembro de ouvir dizer que existiam alguns negócios que seriam sempre prósperos - comes & bebes, farmácias e funerárias.
Os comes&bebes enfim, já há algum tempo que acontece berrarem muitos ao fim de pouco tempo, muitas vezes fruto de se criarem sítios armados ao pingarelho com comida de caca e a preços que valha-me Deus. E mesmo sítios mais antigos, de vez em quando lá cai um, por má gestão, porque as pessoas estão a ir comer fora menos vezes, etc, e todo um estudo de mercado que agora não tenho tempo para fazer.
Mas pronto, a malta ainda tinha aquele sentido de segurança, porque enquanto as farmácias e as funerárias estivessem de pé é porque estava tudo bem. As pessoas irão sempre adoecer e precisar de medicamentos e irão sempre coiso e, portanto, as funerárias tinham sempre clientela garantida. Nada assim muito em massa, felizmente, mas um negociozinho regular, como se quer.
Agora as farmácias estão de luto, ou lá o que é. Uma pessoa vai a uma farmácia e às vezes não há certos medicamentos. Estão esgotados e não têm previsão (ainda me lembro de andar aflita com azia quando estava grávida, numa aventura em busca dos Kompensan desaparecidos do mercado, e vai de chá, e vai de não jantar, e vai de papas de aveia). E é farmácias a fechar. Uma grande complicação, porque o negócio está em crise.
Agora o Governo até se lembrou de cortar nisto da malta poder morrer em paz e ter dinheiro para o funeral. Até morrer está pela hora da morte! Isto está que não se pode! E, lá está, se até aqui já havia muita gente com dificuldade em pagar o funeral de um familiar (muito mais do que se imagina), porque isto sempre foi um negócio muito caro - o que nunca compreendi, com todo o respeito que os mortos merecem, aquilo é tudo para ir para debaixo do chão e ser comido e, portanto, sempre achei as funerárias um bocado usurárias, a aproveitarem-se dos momentos de grande fragilidade das pessoas - agora é a crise no sector lutuário (nunca tinha ouvido o termo, sempre a aprender), porque com as reduções nos subsídios de funeral estamos muitos condenados a um "funeral social". Que deve ser uma coisa boa, com 400€, deve dar para caixão de esferovite ou cartão, sem missas e velórios e essas coisas, e também não deve dar para ir para um cemitério, ou ter uma lápide decente e assim. Isto deve acabar tudo em valas comuns. Tipo lixeiras municipais.
Isto está tudo pensado, estes senhores do Governo são uns génios. Acaba-se com a mama dos subsídios para funeral, a malta está ali quase a morrer mas depois desiste, porque pensa nos custos que isso implica para as suas famílias e pensa "deixa-me lá mas é estar quieto e continuar a trabalhar!". As reformas também estão em crise, portanto, a malta já não tem grande motivação para se reformar, e assim é mais fácil alterar a idade da reforma para os 120 anos. Ou acabar mesmo com elas. "Queres reformar-te? Isso não existe! Deixar de trabalhar só quando morreres? O quê? Não tens dinheiro para o funeral? Eh pá, azarito! É continuar a trabalhar!". E com isso tudo, mais anos a trabalhar, mais anos a descontar e a pagar impostos e essa cena toda. Está bem visto, sim senhor! São espertos!
Posto isto, valas comuns! Ora aí está o que deve ser um negócio em expansão! Dependendo da capacidade das pessoas em se revoltarem e decidirem morrer na mesma.