Este livro foi um dos escolhidos para usar parte do valor de um cartão FNAC que me ofereceram umas colegas fofinhas no meu aniversário. Depois de bem pensar, soube que este livro tinha de vir para a minha estante. Porque, desde logo, a capa é maravilhosa e extremamente chamativa. E depois todo o livro é cheio de pormenores deliciosos, sempre em torno das flores, claro está. Cada capítulo tem no início uma nova flor, com uma explicação sobre a mesma, fazendo o enquadramento sobre o que vai acontecer naquele capítulo, porque toda a história gira à volta da linguagem das flores e como esta se pode usar em determinados momentos da vida para se expressar o que se sente, mais do que tudo. Mas depois, apesar desta espécie de magia em torno de escutar estes elementos da Natureza, a história está longe de ser mágica, fofinha e romântica. É um livro com uma temática muito forte, que me fez chorar em muitos momentos e ter grandes angústias noutros. Porque Alice Hart, que conhecemos ali entre os 7 e os 9 anos, vive reclusa com a mãe e o pai, um homem que as impede de sair de casa e de se relacionarem com outras pessoas, um homem extremamente violento e abusador. Fiquei realmente horrorizada com as descrições de violência deste homem sobre a sua mulher, uma criança e o cão, especialmente por serem feitas na perspectiva de uma criança. E, portanto, se logo nas primeiras páginas, fiquei chocada com a obsessão de Alice sobre as formas de queimar o pai, logo percebi o que estava por detrás dessa motivação. Mas é muito bonito o amor de Alice pela mãe, pelos animais e pelos livros, quando um dia se escapa de casa e acaba por ir parar à Biblioteca local, para logo depois sofrer bem as consequências de tal feito. Ainda que o amor pelos livros não lhe tenha sido arrancado à pancada pelo pai. Bem como o amor pela mãe e pelos animais. Depois de um trágico acontecimento, acompanhamos toda a história de Alice desde que é entregue aos cuidados da avó paterna e passa a viver na quinta das Flores, mulheres maltratadas pela vida que encontram naquele local e em June (avó de Alice) todo o conforto que precisam. Alice é ao mesmo tempo uma personagem frágil, perturbada, mas muito corajosa e resiliente. Que no fundo se precisa de libertar de todo o passado para ser ela própria. No caminho vai conhecer pessoas que se tornam grandes pilares de apoio e outras que mais valia não ter conhecido. Não vos posso contar mais sobre a história. Gostei muito, muito, muito. Gostei de ler esta história comovente passada na Austrália, com todas as descrições sobre as zonas, em termos de Natureza e de crenças e com estas personagens tão frágeis, porque quase todas tinham uma qualquer fragilidade que não aparecia logo de início. O cuidado desta autora com a escrita é de se tirar o chapéu. A forma como coloca as palavras, as palavras que escolhe, a forma como nos introduz as personagens, os momentos da história, a forma como cria os elementos de tensão ou de surpresa de uma forma tão subtil é maravilhoso. Não deixem de ler este livro mesmo que, como eu, sejam pessoas que não percebem nada sobre flores e muito menos sobre a sua linguagem. Porque este livro não é sobre flores, é sobre pessoas. Por tudo isso e muito mais, é um livro que leva 5 estrelas bem gordas no Goodreads e que vai ser um forte candidato a livro do ano!