Ainda me falta terminar o livro do Mário Cordeiro “Pais Apressados, Filhos Stressados” (mas já falta pouco). Mas quando fui de malas aviadas para o Alentejo na Páscoa não me apeteceu levar o Mário. Ficou de castigo em casa a descansar e levei dois livros novos.
Um deles, “A casa das meninas indesejadas” foi-me emprestado pela minha prima, com indicação de ser muito bom. “O Jardim Secreto” veio numa das minhas compras recentes e foi também na mala.
Sinopse
Aos 16 anos, Maggie Hughes faz algo imperdoável aos olhos da família: apaixona-se e engravida. O nome do rapaz é Gabriel e a relação de ambos é proibida. A bebé vai chamar-se Elodie e não conhecerá o amor dos pais. Em vez disso, é enviada para um orfanato miserável, onde cresce sem saber o que é ter um lar e uma família.
E quando uma lei atribui mais dinheiro aos hospitais psiquiátricos do que aos orfanatos, a situação de Elodie piora dramaticamente. Juntamente com milhares de outros órfãos, é declarada atrasada mental. O orfanato transforma-se num hospital onde as crianças são submetidas a tratamentos para doenças que não têm, as janelas estão cobertas por grades e as aulas são substituídas por trabalho pesado.
Maggie, entretanto, faz os possíveis por ter uma vida normal. Mas não consegue esquecer a bebé que foi forçada a abandonar. Após um encontro inesperado com Gabriel, que faz ressurgir memórias avassaladoras do passado, ela decide enfrentar a sua perda. E começa então uma busca desenfreada pela sua menina e pela vida que lhes foi negada…
Joanna Goodman baseou-se em factos reais e na história da sua família para escrever A Casa das Meninas Indesejadas. Um romance que relata um momento negro da História e que é universal na abordagem aos laços indestrutíveis que unem mães e filhas.
Despachei este livro rapidamente. Tinha muita dificuldade em pousar o livro para ir fazer qualquer coisa. Ainda bem que o fim-de-semana foi de completa lanzeira.
A sinopse é muito self-explanatory para fazer o enquadramento da história. Os capítulos são curtos o que facilita também a leitura rápida.
Temos sempre de nos lembrar que o início da história decorre nos anos 50 onde estas situações de se retirarem crianças a mães adolescentes por serem "fruto do pecado" eram banais, como forma de impedir a vergonha na família.
Depois Elodie é apanhada na situação em que, por questões monetárias, o orfanato onde se encontra é de um dia para o outro convertido num hospital psiquiátrico e de repente as crianças são declaradas doentes mentais. Mais tarde é enviada para um hospital psiquiátrico a sério, com um médico que a declara doente mental, pelo simples facto de ser uma criança que não sabe certas coisas porque nunca delas ouviu falar ou as viu, enfiada desde bebé num orfanato, conhecendo apenas aquela realidade.
Estas partes da história são bastante comoventes, quer pela descrição de algumas atrocidades cometidas contra as crianças institucionalizadas, mas mesmo pelo próprio sufoco em si de as crianças se verem embrulhadas naquela situação sem forma de sair.
Os anos passam, Maggie refaz a sua vida, mas nunca consegue esquecer Elodie. E a dada altura percebe que tem mesmo de a conseguir encontrar.
Porque entretanto os anos passaram e as políticas mudaram, mas será que vai conseguir seguir o rasto de Elodie, mesmo contra tudo e todos que acham que o melhor era deixar o passado no passado?
A história é passada no Quebec e retrata bem a sociedade na época, principalmente as quezílias entre franceses e ingleses.
Admirei a coragem e persistência de Maggie, só tive alguma pena que não tivesse avançado mais cedo para a busca. Porque passaram realmente muitos anos e Elodie sofreu bastante na vida.
A história é baseada em factos reais, pois entre 1940 e 1960 foram várias as crianças órfãs declaradas doentes mentais pelo governo do Quebeque. Os Órfãos de Duplessis, assim apelidados por Duplessis ter sido primeiro-ministro na altura em que os orfanatos passaram a ser hospitais psiquiátricos, eram considerados frutos do pecado. Na sua maioria filhos de mães solteiras, foram sujeitos aos actos mais vis, desde lobotomias, ao uso de coletes de força, choques eléctricos e abusos sexuais, praticados por freiras e médicos das instituições. Muitas morreram em virtude estas atrocidades. Isto porque o Governo decidiu que as instituições psiquiátricas receberiam mais ajudas por parte do Estado do que os orfanatos e permitiu que os mesmos deixassem de existir como orfanatos transformando-se em instituições de saúde mental. Só depois de Duplessis sair do governo é que se começou a descobrir o que as instituições católicas tinham feito com estas crianças, que já adultas começaram a denunciar os maus tratos que tinham vivido nas mãos, sobretudo, de freiras e padres, tendo sido finalmente libertadas.
É uma história forte de amor. De amor entre Maggie e Gabriel, mas principalmente de amor entre uma mãe e uma filha, cujos laços são muito difíceis de quebrar. Ainda que se calhar tivesse gostado de um final um pouco mais explorado, especialmente porque a história vai tendo saltos temporais bastante grandes.
Dei-lhe 4 estrelas bem gordas no Goodreads (na realidade são mais 4,5) e é um livro que recomendo vivamente.
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Apanhei este livro numa das promoções da Wook e acho que na altura o comprei por duas razões: esta capa linda e maravilhosa e alguns comentários positivos escritos na página da Wook, bem como um bom desconto.
Sinopse
Mary Lennox, criança solitária e indesejada, chega da Índia para viver com o tio em Yorkshire. Entregue a si própria, pouco tem com que se entreter e começa a explorar a casa enorme e sombria, até que numa bonita manhã de sol se depara com um jardim secreto que muros cobertos de hera ocultavam. Pela primeira vez na sua breve e triste vida, Mary descobre uma coisa que merece a sua afeição e empenha-se em devolver o jardim à sua antiga glória. Quando o jardim começa a florir e a transformar-se como por magia, ninguém permanece indiferente.
Este livro faz parte do Plano Nacional de Leitura e é recomendado para o 3º ciclo, destinado a leitura autónoma. Só quando lhe peguei percebi que este livro já é bastante antigo, foi primeiramente editado em 1911.
E achei-o uma delícia! É um livro pequeno, que se lê avidamente.
É um livro cheio de ternura, que nos fala sobre crianças infelizes, indesejadas pelos pais que as tratam com indiferença, mostrando o quanto a falta de afecto numa criança a torna de tal forma doente e infeliz que fica feia, fisicamente e enquanto pessoa.
Mas também nos fala do quanto as crianças precisam umas das outras. Nos fala de pessoas simples e boas. E de alegria. E de brincar. E de acreditar em magia. E de as crianças conseguirem ser felizes com pouca coisa.
E do quanto precisam só de um bocadinho de motivação para acreditarem em si próprias e disparar a sua auto-estima. E do quanto precisam do contacto com a Natureza para desabrocharem, da mesma forma que as flores e as plantas precisam de sol e água e carinho.
Creio que esta obra infanto-juvenil pode e deve ser lida por pessoas de todas as idades e, apesar de ser bem antiga, está muito actual.
No fundo fez-me lembrar muito o conceito do forest bathing e do quanto o simples facto de estarmos rodeados por elementos da natureza nos faz de imediato sentir melhores, a nível físico e psicológico. Precisamos todos disto, mas precisam ainda mais as crianças.
Não vos vou contar nada sobre a história para lá do que podem ler na sinopse porque, num livro tão pequeno, é muito fácil entrar em spoilers.
A autora tem uma escrita cuidada e deliciosa, que nos encanta, diverte e comove.
Dei-lhe também 4 estrelas bem gordas no Goodreads.
Acho que todas as pessoas deviam ler este livro e creio que é um livro que vou guardar com carinho para, quem sabe, o reler com frequência.
Leiam esta linda história que nos fala da natureza como o maior símbolo de vitalidade e felicidade!