Profissões que eu não poderia desempenhar correctamente #3
Costureira!
É ponto assente, não nasci para a costura. A minha veia de fada do lar só palpita por certas tarefas. Por outras até se entope.
A minha avó materna, com quem tive muitas "aulinhas" sobre como "ser uma mulher", ensinou-me muitas coisinhas boas de menina prendada. Umas aprendi-as, outras aperfeiçoei-as, outras ficaram embebidas em mim de tal modo que não sei viver de outra maneira. Fiz muito crochet e malha, que era para depois poder ir brincar com as bonecas ou ir para a rua. Mas a grande tortura eram as "aulinhas" de costura. Cruzes, credo! Não tinha jeito nenhum. "Agora vamos fazer uma baínha!". Vamos! Então não? "Ah, hoje vou-te ensinar a chuliar!" WTF?? Mas eu lá quero saber chuliar! Isso até soa mal. Pronto, apesar do descontentamento, contentou-se com a ideia do a rapariga já sabe pelo menos pregar um botão ("Nenhum homem quer uma rapariga que não saiba coser um botão!"). E, pronto. Foi arte que não aperfeiçoei. Até porque fujo da tarefa como o Diabo da cruz. A minha "caixa de costura" é uma vergonha. Só por ali se vê que o primor não é muito. Tem assim um ou dois rolinhos de linhas e uma ou duas agulhas e pronto.
A minha mãe sofre muito dos nervos porque a sua filha linda não tem um dedal. E quando alguma vez pega em agulha e linha para coser fá-lo sem dedal. E ela não percebe como eu consigo. E acha que isso revela logo, de forma demasiado óbvia, que não faço a menor ideia do que estou a fazer. E não faço. Mas a cena do dedal atrapalha-me e então com um dedal é que não consigo fazer nada. Sou do contra diferente.
De vez em quando lá vem o Semi-Deus com um botão que caiu da camisa pedir-me se não me importo de o coser. Eu não me importo, mas o jeito é tanto que às vezes até me importo. E umas vezes lá vou eu, com muita taquicardia, fazer esta tarefa tão simples mas que eu até parece que levei uma paulada na cabeça, porque me sobe o stress ao cérebro.
Mas depois tudo o que vai para lá do coser um botão é um stress maior. Não sei, não quero fazer, não faço e é para isso que inventaram as lojinhas com costureiras.
Hoje devo ter tido uma inspiraçao muito divina e lembrei-me de umas calças que precisavam de levar um pontinho porque tinham duas costuras a querer abrir. Lá estive, com muito afinco, língua de fora ao canto da boca em concentração máxima. Cosi aquilo de fio a pavio. Acho que aquilo tão depressa não abre. Quando terminei olhei para a costura com um imenso orgulho. Dei por mim a pensar "Curly Maria, que orgulho! Ficou tão lindo isto! Uma pessoa alcoolizada ou com Parkinson não teria feito melhor!".