A Scent of Movie...

Tinha eu 17 anos quando frequentei o 12º ano...e foi nesse ano que tive a melhor professora de História de sempre.
Até esse ano, História era para mim das disciplinas mais assustadoras...porque tinha algumas dificuldades e nunca tinha tido professores de História que me conseguissem explicar as coisas de forma a que eu compreendesse...era tudo muito abstracto...e eu achava que não fazia sentido, porque em História explicam-se e relacionam-se factos...e então perdia-me, e não gostava.
Eu, que fui sempre aluna de negativas a História, chego ao 12º e, com aquela senhora pequenina, mas cheia de vitalidade e força, cujo lema era "Comigo, até as pedras gostam de História" consegui chegar ao final do ano lectivo e ter um 15...Acho que para mim simbolizou quase um 20...
Para além de me ter marcado como professora e de me fazer acreditar que eu tinha imensas capacidades, foi numa aula dela que assisti pela primeira vez ao filme que até hoje tenho como o meu filme preferido - "O Clube dos Poetas Mortos" - e foi através dela que tive conhecimento de que havia um livro extraordinário, de título "O Perfume" do autor Patrick Suskind.
Não o li de imediato...mas foi uma referência que guardei como "um livro que um dia tenho de ler"...
Alguns anos mais tarde, numa das Feiras do Livro de Lisboa, deparei-me com aquele livro pela primeira vez numa das bancas. Ainda nunca o tinha visto...mas de imediato fez eco a memória daquela referência e nem hesitei...
E, mais uma vez, aquela senhora expedita e simpática, tinha razão...
Adorei ler aquele livro, embrenhar-me na história do estranho Jean-Baptiste Grenouille, amá-lo e odiá-lo ao mesmo tempo, deixar-me levar pela descrição fantástica daquele autor de perfumes e cheiros pestilentos (a ponto de em dados momentos sentir náuseas ou então ter a sensação de sentir perfumes no ar)...e de me arrepiar com aquele final surreal mas que, por outro lado, não podia ser outro...
Guardei-o até hoje como o meu livro preferido, cuja leitura sempre recomendei bastante...
Naturalmente que fiquei super contente quando fiquei a saber que ia estrear em Novembro o filme "O Perfume"...
A expectativa, o drama, o horror..."como será o filme? não posso perder! mas será que vai ser uma boa adaptação? ou será que vai ser uma tremenda decepção?"...
De coração aos pulos, lá foi eu à estreia (nem podia esperar um dia mais)...
Ia tão receosa de não gostar...mas afinal os meus receios eram infundados...
AMEI o filme!
Acho que foi a melhor adaptação de um livro para cinema que já vi.
Fantástico!!
Uma reconstituição fantástica da França do século XVIII, tão bem descrita no livro...
Que bem conseguida a cena do nascimento de Grenouille...daquela praça nojenta, cheia de pessoas asquerosas, e de peixes completamente pestilentos...senti a mesma náusea de quando li o livro...
Muito bem feita a cena do primeiro respirar de Grenouille, recém-nascido ainda com o cordão umbilical...
Cenários fantásticos (adorei as perfumarias cheias de frasquinhos de todas as formas, nada comparadas com as perfumarias "quadradas" de hoje)...
As personagens muitissimo bem caracterizadas...quem era asqueroso era mesmo asqueroso, quem era belo era mesmo belo...
Uma fotografia excelente e contrastes de luz magnifícos...
Foi excelente a escolha do actor principal...
E Dustin Hoffman criou um excelente Baldini.
Quando lemos um livro, aquilo que não é descrito ao pormenor é por nós imaginado...ou seja, neste caso o que mais é descrito sobre Grenouille é o seu olfacto e o facto de ser um ser sem um odor próprio...mas, sempre imaginei Grenouille como uma espécie de Corcunda de Notre Dame, alguém com um aspecto arrepiante que só não chocava as pessoas por não ser notado dada a ausência de odor corporal...sempre o imaginei muito feio...
Achei engraçado que no filme Grenouille não é afinal nenhum monstro, um ser de aspecto abominável...tinha afinal olhos azuis e era um homem até com alguns traços bonitos...
Assim, quase que voltei a reconstituir toda a história, desta vez com um novo personagem...o que deu outro sentido.
Como a presença de Grenouille era ignorada pelas pessoas, pela ausência de odor corporal, sempre pensei "bom, deve ser uma pessoa com um ar tão abominável, só que passa despercebido".
Afinal, ele era uma pessoa de aspecto normal.
Achei curioso...
Recomendo vivamente este filme...mesmo para quem não tenha lido o livro...
Quase a virarmos a página a mais um ano, vi o melhor filme do ano...
:)
PS - este post hoje tá um bocado extenso...mas também, o filme tem quase 3h, não podia escrever 2 linhas de texto, não é?