Ode aos Professores
Os professores são muito importantes. Não digo isto em tom sarcástico. São mesmo muito importantes. Foram importantes para mim. Um bom professor é inesquecível, muito mais que um bom aluno. Mas muitas vezes um bom aluno nasce nas mãos de um bom professor. Os bons professores que tive fizeram-me gostar da disciplina, querer aprender e conseguir boas notas. Ainda me ensinaram umas quantas coisas sobre a vida e as relações entre as pessoas. Os maus professores (que infelizmente os há e bastante) tiveram o efeito inverso. São também inesquecíveis, mas pelas piores razões.
Os professores têm uma vida difícil. Acredito que sim. Os que o fazem por gosto e os que se dedicam. Sei que há muitos que não têm uma vida difícil porque não querem saber. Fazem-no por frete e sem qualquer vocação. Um dia é igual ao outro e os alunos são uma mancha indefinida numa sala. Não estou a ser mázinha. É verdade. Tive testes de alunos a passarem pelas minhas mãos e a serem corrigidos por mim porque o professor estava-se demasiado a borrifar para se dar ao trabalho. Eu que um dia disse aos meus pais que não queria seguir a via de ensino porque sentia que não tinha jeito e se calhar ia tirar o lugar a alguém que tivesse. Podia não ter jeito, mas se calhar tinha mais alguma consideração pelos alunos que alguns professores em quem se tropeça.
Os professores são vistos por alguns como uma classe privilegiada, que sempre se queixou de barriga cheia por ter tido sempre mais regalias do que outros. Não sei se é verdade ou não. Sei que me lembro de nos ser explicado que os professores tinham uma carga horária diferente de outros trabalhadores porque o restante seria usado para em casa preparar as aulas, ter tempo de investigação, corrigir testes, etc etc. Se calhar o que aconteceu foi que os bons professores, os dedicados, era isso que faziam. Os maus iam para o café, para a praia, às compras. Aqueles que levam para as aulas apontamentos em papéis já amarelos pela passagem do tempo ou power points que nunca mudaram cujos slides se limitam a ler.
Polémicas à parte, acho que os professores têm tantos direitos como as outras pessoas. E têm o direito à greve. Mas isto do direito à greve está a começar a parecer cada vez menos um direito. É porque os meus direitos acabam quando começam os direitos dos outros.
Os professores são importantes, repito. Fui aluna. Foram importantes para mim. Sou mãe. São importantes para os meus filhos.
Os professores têm direitos. Com certeza. Os meus filhos também.
O direito à greve tem o problema de provocar grandes impactos nos outros. São as greves nos transportes, que impedem os outros no seu direito a chegar a horas ao emprego. São as greves gerais, que impedem praticamente tudo. O chegar a horas, o tratar de um assunto importante, o ser devidamente atendido num serviço de saúde. Esta greve dos professores, a manter-se, é feia. Eu acho. Não por ser uma greve, mas porque em tantos dias no ano decidem escolher a altura dos exames nacionais. Isso não é bem um direito à greve. É ser mauzinho. É propositadamente querer provocar um impacto maior. Suponho que seja essa a ideia da greve. Provocar impacto. Mas provocar impacto nos alunos, que são a razão pela qual os professores são necessários é o quê? Trabalharam um ano inteiro com aqueles alunos que agora estão sem saber se vão poder realizar os exames que vão decidir o seu futuro e agora largam-nos como cães? Foi para isto que trabalharam o ano inteiro?
E o direito dos nossos filhos? E o impacto no seu futuro? Se os alunos quisessem fazer greve aos exames para protestar contra os maus professores o que lhes acontecia?
Os alunos não merecem mais respeito?