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Curly aos Bocadinhos

Curly aos Bocadinhos

Leitura Terminada

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Este romance é de uma simplicidade assustadora. Porque parece tão facilmente escrito, lê-se tão rapidamente que, dir-se-ia, não é de peso. Mas é.

Apesar das poucas páginas e da letra grande, é um livro que contém tanta coisa em tão poucas folhas...

Nesta história conhecemos um conjunto de crianças que são acolhidas em Golden Age na Austrália por volta de 1954, uma casa de recuperação para crianças atingidas pela poliomielite (umas em regime de dia, outras em regime de residência).

Entre elas, conhecemos Frank Gold e Elsa, duas crianças a entrar na puberdade, com a mesma idade, que se aproximam de uma forma muito intensa, o que faz com que acabem por ser o fôlego uma da outra para aguentarem as suas dores e a distância das suas famílias. 

A dada altura até dispensam estar com as famílias, porque é em Golden Age que se sentem em casa e sempre que são visitados sentem que estão a trespassar a barreira para o seu mundo privado (o terceiro país). O que alguns pais agradecem porque as crianças doentes eram para eles um embaraço social e um empecilho para as suas vidas sociais (aquela parte do Natal então foi chocante).

Frank é um refugiado da Hungria e através dele e da sua família são-nos deixadas algumas lembranças da Guerra e daquilo por que passaram.

Elsa é uma menina linda que o encanta com a sua beleza, graça e personalidade.

Frank descobre a poesia com uma outra criança de Golden Age, Sullivan, mas é Elsa que o inspira a constantemente anotar frases belas que descrevam o que sente por ela e por tudo o que vivem.

A autora não aprofunda verdadeiramente nada. É como se todo o livro fosse um aglomerado de pequenas pinceladas que são dadas aqui e ali, que nos deixam perceber o passado, o presente e o futuro, mas tudo nos é dado de um modo muito súbtil. Com uma leveza de quem apenas nos quer espicaçar para uma história mais profunda, que não surge senão na nossa cabeça. É quase como se tudo fosse sugestionado. Apesar de algumas coisas mais concretas, o rumo da história segue de uma forma quase imperceptível, com grandes avanços mais para o final. Altura em que percebemos que há amores que só podem ser vividos num determinado cenário e local. Porque fora daquela esfera não era possível.

E eu, que normalmente não gosto de livros com frases muito curtas, com muita coisa que fica por dizer, realmente gostei bastante deste livro na forma simples como é escrito. As frases curtas, o deambular temporal e entre personagens quase sem muito nexo. Só que a autora tem o dom de fazer isto e de me fazer sentir que naquilo que parece ser uma escrita pouco elaborada é na verdade uma escrita bastante complexa. 

Um romance cheio de nostalgia e de subtileza como não é muito normal ler-se por aí.

 

Gostei muito e também de conhecer esta nova autora.

 

Agradeço à Bizâncio pelo envio deste exemplar!

 

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