Leitura Terminada
Ficámos no Algarve numa zona perto de Olhão para uma semana de férias. Olhão em si é uma terrinha sem piada nenhuma e sem nada de jeito para fazer. Durante o dia a nossa vidinha era ir até às ilhas ali da zona apanhando o ferry para fazer belos dias de praia. Chegados ao parque de campismo, era fazer churrascada e jantar a más horas, sendo que depois do jantar não havia nada para fazer senão descansar, dar uma volta a pé pelo parque e levar o puto ao parque infantil ou ler umas páginas de um livro.
Mas numa das noites tivémos de ir ao Centro Comercial para tirar umas fotocópias. Já que lá estávamos decidi dar uma volta e descobri uma loja Note com vários livros com promoções de 40 e 50%.
Peguei neste e num da Dorothy. Ainda passei as mãos por vários outros. Mas, decidi portar-me (estupidamente) bem e apenas trouxe este, por metade do preço.
Não foi por falta de livros porque, para além do "Aqueles Que Merecem Morrer" levei mais dois livros e até já tinha começado a ler as primeiras páginas do "Alex" (de Pierre Lemaitre). Mas quem resiste a promoções assim? E depois acabei por pousar o "Alex" e não resisti à tentação de ler mais um livro de S. K. Tremayne.
Quando Rachel se casa com David, tudo parece encaixar-se. Ao mudar-se de uma vida de mãe solteira para a bela mansão Carnhallow na Cornualha, ela ganha riqueza, amor e até um irmão para a sua filha, Millie. É então que o seu enteado, Jamie, faz uma previsão assustadora, e a vida perfeita de Rachel começa a desmoronar-se. Assombrada pelo fantasma da falecida mulher de David, a mãe de Jamie, e à medida que suspeita que a morte daquela não tenha sido suicídio, Rachel começa a temer que as palavras do enteado se tornem realidade: «Irás morrer no Natal».
He did it again!
Este autor voltou a deixar-me de cara à banda!
Por uma questão de sensibilidade pessoal, creio que gostei mais da história de "As Gémeas do Gelo". Foi um livro que realmente me deixou de cabelos em pé. Mas, este livro é igualmente arrepiante!
A capacidade que este senhor tem de me manter presa na história é fantástica.
Aqui acompanhamos um recém-casal, Rachel e David, e o filho de David, Jamie. Jamie perdeu a mãe há 18 meses (e David a mulher) e o trauma continua bem presente ou se calhar pior com a presença de Rachel na enorme mansão assustadora onde vivem.
A descrição belíssima daquela zona da Cornualha, tão agreste e tão brutalmente bela, faz-me ficar cheia de vontade de a conhecer.
A história parece que vai enveredar por um caminho, mas depois é um conjunto de caminhos desviantes, porque estamos sempre a ser surpreendidos por algo inesperado.
A mãe de Jamie morreu mesmo? David será um assassino? Ou será que foi Jamie que matou a mãe?
E a presença dela naquela casa? É real, é imaginária, são alucinações? Será que foi Juliet, a avó?
Às tantas não sabemos no que acreditar, não sabemos o que realmente aconteceu e o que mais irá acontecer, e a forma como os transtornos psicológicos são abordados, aliado a uma escrita bonita quer sobre emoções, quer sobre descrição de paisagens envolventes torna este livro muito especial.
É brutalmente envolvente e emocionante, mesmo até ao final!
"(...) duvidar da dúvida é o princípio da fé."
"O rapaz voltou a olhar para o mar. David também. Era o que havia a fazer. Todas as pessoas da Cornualha Ocidental olhavam para o mar quando lhes faltava a conversa: onde quer que se fosse, repetia-se o mesmo gesto, com as pessoas a caírem no silêncio e, depois, a olharem para oeste, com uma espécie de nostalgia. Era como se a paisagem tivesse moldado as mentes. Por viverem na trémula berma da Europa, perto do Além ocidental céltico. Naquele local em que as rochas e as ervas tentavam alcançar a eternidade: isso ensinava as pessoas a fazerem o mesmo."
"Está tudo envolto em gelo e brancura. A paisagem está transtornada, autista, muda. Há pingentes de gelo pendurados nos moledros de granito, como se fossem paióis de gelo. O único movimento é o do mar, que valsa interminavelmente, uma dança de morte. Nunca parará. O mar parece histérico, comparado com a terra congelada e imóvel."
(as imagens que me ficam no imaginário)