Leitura Terminada
Este livro chegou às minhas mãos através do simpático envio da Editorial Bizâncio.
Aguardo sempre com expectativa novidades desta editora, porque já li muito bons livros que me fizeram chegar. E, este em particular, quando recebi informação das novidades, deixou-me logo de orelhas em pé. E não desiludiu!
A única coisa que anda a desiludir é a minha falta de capacidade nesta fase do ano para despachar os livros mais rapidamente. Então desde que veio o calor equivalente ao Dubai ou lá o que é isto, o meu cérebro não dá para mais. Por isso, as minhas leituras são mais lânguidas, como mais lânguido fica o meu corpo e o meu cérebro.
Mas, neste caso, ainda bem! Porque este livro acho que não é indicado para ser despachado num dia. É um livro para ler devagar, para absorver esta escrita tão envolvente e para conseguirmos interiorizar estas duas personagens principais tão fragilizadas, Yukiko e o seu filho Jay, porque é um livro bastante diferente daquilo que já li.
Só para dar algum enquadramento, a história vai alternando entre a narrativa sobre Yukiko a partir dos seus 16 anos e narrativa do seu filho Jay, uns 30 anos depois.
Yukiko é uma personagem muito frágil, uma jarra de cristal que estamos sempre com medo que se parta. É uma personagem que nos traz todas as questões referentes à individualidade, à solidão, à falta de capacidade para interagir socialmente, à violência, à falta de afectos, à falta de auto-estima, à sensibilidade artística e também nos traz um pouco da cultura familiar japonesa.
Jay é uma personagem afectada durante toda a vida pelo facto de Yukiko o ter abandonado com o seu pai quando tinha dois anos. Jay nunca superou esse abandono, sofre de crises psicológicas que consegue ir combatendo com a presença da sua gata pelada (gostei deste pormenor de como um animal de estimação consegue fazer tanto para melhorar o estado do seu dono). O trauma do abandono reflecte-se também nos problemas que surgem no seu casamento na altura que a sua mulher engravida e depois quando a filha nasce. Confesso que nessas alturas gostei muito pouco de Jay, nas alturas em que ele falava da mulher grávida como um monstro grotesco por quem sentia asco, o mesmo asco que parecia sentir pela filha, especialmente recém-nascida. Mas depois percebi que tudo aquilo fazia parte das suas afectações psicológicas. Não passei a gostar mais dele, mas consegui compreender.
Jay acaba por se encontrar com a mãe depois da morte do pai, porque, apesar de a mãe os ter abandonado, foi a ela que ele deixou a casa onde vivia. E Jay precisa que a mãe assine pessoalmente um documento de aceitação da herança.
Jay encontra uma mãe igualmente frágil e pobre, só que com mais idade. E na altura que se encontram, é tudo tão sereno, tão ao contrário do que se calhar estava à espera.
É um livro com uma escrita poderosíssima, muito bela, crua em alguns momentos, mas que faz um retrato maravilhoso sobre as fragilidades de um ser humano e sobre os laços e as relações complexas entre pais e filhos, que nem sempre são tão lineares como achamos que deveriam ser.
Desconhecia esta autora, mas sem dúvida vou ficar atenta a outros títulos, porque tem uma escrita que vale bem a pena.
Muito obrigada à Bizâncio pelo envio deste magnífico romance!