Leitura Terminada
Li este livro num final de tarde, entre a hora do lanche depois do trabalho e a hora de ir tratar do jantar.
Ora, uma pessoa coloca este livro na mesa ao lado do nosso belo capuccino e tem logo aquele instinto de ir buscar um mata-moscas potente ou o insecticida.
Que me perdoem os amantes de todas as criaturas vivas, mas eu tenho uma certa aversão a insectos e bichos rastejantes. Percebo que tenham o seu papel na Natureza, mas gosto que circulem nos seus caminhos sem virem para cima de mim. Aquilo são demasiadas patas e olhos esquisitos. E, portanto, baratas e afins em cima da mesa, ainda que na capa de um livro fazem-me sentir arrepios...
Mas, adiante...
Comprei este livro numa altura em que decidi ler uns quantos livros clássicos daqueles must read que tinha em falta. Comprei nessa leva O Deus das Moscas, o Siddhartha, A Quinta dos Animais, O Deus das Pequenas Coisas (este ainda não li) e esta referência que ainda tinha na estante por ler.
Sinopse
"Certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama, metamorfoseado num monstruoso insecto."
É assim que começa A Metamorfose, uma das mais emblemáticas obras de Franz Kafka. Nesta narrativa, o autor recorre à terrível metamorfose física e ao desespero da personagem para abordar os temas transversais a toda a sua obra: o comportamento humano, a impotência perante o absurdo e a frustração provocada por uma sociedade opressora e burocrática.
Este livro tornou-se uma obra emblemática da literatura sobre o absurdo e o comportamento humano.
Mas é um livro todo ele bastante estranho. Precisamente por isso. Porque é absurdo e nada faz sentido.
Fez-me lembrar um bocado aquele filme A Mosca com o Jeff Goldblum, do qual vi um bocado há muitos anos, em particular aquela parte da transformação em bicho. Mas tenho ideia de que fiquei mal disposta com a coisa e quando o actor já estava a soltar uns fluídos esquisitos tipo vómito acho que fui fazer outra coisa qualquer. Não me recordo de todo de ter visto esse filme até ao fim. Mas era um filme mais ficção científica.
Este livro começa simplesmente por um belo dia um homem acordar de um sono profundo e se ver transformado num bicho (que se crê, pela descrição, ser algo como uma barata enorme). Gregor é um homem focadíssimo no trabalho, vive para trabalhar e para sustentar a família. Vive com os pais e com a irmã, com uns dezassete anos.
Ora, Gregor, dada a situação, não consegue chegar a horas ao transporte que costuma apanhar todos os dias à mesma hora para ir trabalhar e há logo alguém que vai a sua casa indagar por que razão não se apresentou ao trabalho como normalmente.
E este curto livro, basicamente, descreve-nos a sensação do próprio indíviduo com a sua metamorfose e a sua frustração e capacidade de adaptação, bem como as reacções da sua família a esta situação.
É todo um livro absurdo, mais uma vez, e creio que pretende fazer um estudo da condição humana e das pressões sociais, laborais e burocráticas, com base nesta grande metáfora de um ser humano de repente se tornar um bicho irreconhecível, que provoca toda uma série de reacções e sentimentos negativos nas pessoas.
Não deixa de ser um livro bastante actual.
Porque aborda temas como a lealdade familiar, a desumanidade, o egoísmo, a falta de agradecimento e reconhecimento profissional e familiar, a pressão de um homem ser um sustento de uma família de tal modo que isso pode levar à loucura e à metamorfose e mostra como é fácil esquecer alguém que se ama e como é fácil alguém se tornar um fardo para a família.
Portanto, é um estudo interessante, uma reflexão curiosa sobre a humanidade.
Dei-lhe 4 estrelas no Goodreads.
Percebo a referência, percebo o impacto, mas também percebo que não é propriamente o tipo de leitura que me seja prazeirosa. É algo que leio de forma mais racional, mas é um livro frio, é um livro de certo modo depressivo. Não é o tipo de livro que me desperte aquelas emoções boas numa leitura. Acho que foi um livro que li do início ao fim com a cara franzida.
Mas aprecio a capacidade de o autor ter escrito sobre algo tão complexo em tão poucas páginas, num livro que quase parece um conto breve e despretensioso. Porque é um livro pequeníssimo mas que nos faz ficar a pensar e nos faz reflectir. Nesse aspecto é brilhante, mas não lhe consigo dar as 5 estrelas, por uma questão emocional e por uma questão de gosto pessoal relativamente à leitura.
De qualquer modo, é uma referência literária importante, cuja leitura recomendo.
E, vocês, já leram? O que acharam?