Leitura Terminada
Sinopse
Por causa de um poema, um tribunal bolchevique condena o conde Aleksandr Rostov a prisão domiciliária. Ficará retido, por tempo indeterminado, no sumptuoso Hotel Metropol. A prisão pode ser dourada. Mas é uma prisão.
Estamos em Junho de 1922. Despejado da sua luxuosa suíte, o conde é confinado a um quarto no sótão, iluminado por uma janela do tamanho de um tabuleiro de xadrez. É a partir dali que observa a dramática transformação da Rússia. Vê com tristeza os magníficos salões do hotel, antes animados por bailes de gala, serem agora esmagados pelas pesadas botas dos camaradas proletários. E vê-se obrigado a negociar a sua sobrevivência, num ambiente subitamente hostil.
Aos poucos, porém, o aristocrata descobre aliados no hotel, com quem partilha o seu amor pelo belo - e a defesa de valores morais que nenhuma ideologia poderá vergar. Faz-se amigo do chef, dos porteiros, do barbeiro, do encarregado da garrafeira, e com eles conspira para devolver ao Metropol a sua antiga e majestosa glória. Ao mesmo tempo, toma sob a sua proteção uma menina desamparada, a quem provará que a vida não se resume à luta de classes.
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Vamos tirar três minutos e meio para apreciar esta capa, sim?
Bom, querem saber uma coisa? Tenho este livro em e-book. Contudo, há dias fui à biblioteca entregar livros que tinha trazido para o meu filho e buscar mais uns. Quando fui fazer o registo, muito perto da recepção dei de caras com ele em destaque. E o que acabou por acontecer? Requisitei-o. Porque há livros que nos forçam a vaidade. Que nos tornam vaidosas. E eu fui vaidosa com este livro. Tive de ter o prazer de lhe pegar e de passear com ele pela rua, pelo menos duas vezes.
E esta capa diz tanto sobre a história, tem tantos detalhes ali naquele dourado chamativo, que encanta qualquer leitor.
E depois querem saber mais uma coisa?
Estamos em Abril (mas isso vocês já sabem). Mas há sempre aquele momento em que sabemos que encontrámos o livro do ano. Aquele livro especial, aquele livro que, mesmo que se leiam mais 20 livros aos quais se dê 5 estrelas, ganhou um cantinho especial no nosso coração e não há como não levar a taça.
Este livro é como um jantar de luxo, um jantar de gala entre muitos jantares especiais. Os especiais são especiais, mas o de luxo tem um requinte que não se encontra em mais nenhum.
É um livro fenomenal!!
É um livro que tem no seu cerne uma personagem inesquecível, o conde Rostov é dos personagens mais deliciosos que já conheci. E temos o prazer de o acompanhar durante tanto tempo e em tantas peripécias.
É uma pessoa que se viu condenada a viver em prisão domiciliária num hotel, hotel em que vivia numas determinadas condições algo luxuosas, mas que rapidamente percebe que as condições mudam e que a sua condenação (por causa de um poema, é preciso lembrar) implica que viva no hotel, mas num quarto no sotão, onde consegue a muito custo enfiar alguns dos seus artigos pessoais que tinha no quarto, algumas relíquias de família.
É um livro que faz uma enorme crítica social e política, mas de uma forma tão elegante, tão engraçada, que se torna uma história maravilhosa.
O autor é ele próprio um cavalheiro na forma como cria esta história focada neste homem que faz tanto para aproveitar o melhor que pode da vida e que nos dá grandes lições sobre comida, vinho, amor, amizade, argúcia e sobrevivência.
E tem detalhes maravilhosos sobre a forma de ser, estar e pensar dos Russos que, se calhar, ainda hoje se aplicam.
Faz uma caricatura deliciosa dos Russos, dos Americanos, dos Franceses, mas tudo com uma escrita tão intrincada e ao mesmo tempo tão ligeira que é de louvar esta capacidade do autor.
Todas as ligações que o Conde Rostov faz com tantas pessoas diferentes no hotel tornam esta história super rica. E mostram-nos que é possível ser-se Conde, ter tido uma vida de luxo, ser alguém com um estatuto social elevado, ainda que o tenha perdido depois da Revolução, e ser capaz de tratar com respeito e de forma igual desde um magnata qualquer que aparece no restaurante do hotel para jantar ou beber um copo, até à costureira do hotel ou ao funcionário da limpeza. É uma verdadeira iguaria saborear este livro.
Como já perceberam, não vos vou contar mais sobre a história.
Relativamente ao final, adorei a parte do desfecho da história do Conde, ainda que tenha ficado muita coisa subentendida. Gostava de ter tido um nadinha mais de informação relativamente a uma personagem, mas nem isso retira a riqueza deste livro e o privilégio de ter lido esta história.
Só vos recomendo que leiam! Se não quiserem ou não puderem comprar, requisitem na biblioteca, peçam emprestado, qualquer coisa, mas leiam!
Malta, se até o Bill Gates leu e diz que é bom, vocês têm de ler, né?