Sinopse

Ela era absolutamente normal. Não era bonita, mas também não era feia. Fazia as coisas sem entusiasmo de maior, mas também nunca reclamava. Deixava o marido viver a sua vida sem sobressaltos, como ele sempre gostara. Até ao dia em que teve um sonho terrível e decidiu tornar-se vegetariana. E esse seu ato de renúncia à carne - que, a princípio, ninguém aceitou ou compreendeu - acabou por desencadear reações extremadas da parte da sua família. Tão extremadas que mudaram radicalmente a vida a vários dos seus membros - o marido, o cunhado, a irmã e, claro, ela própria, que acabou internada numa instituição para doentes mentais. A violência do sonho aliada à violência do real só tornou as coisas piores; e então, além de querer ser vegetariana, ela quis ser puramente vegetal e transformar-se numa árvore. Talvez uma árvore sofra menos do que um ser humano.

Li este livro todo num dia em que estive de folga e planeava começar outro livro. Só que tinha-o em ebook, e todos os equipamentos ficaram sem bateria nesse dia e então acabei por pegar neste e foi até ao fim.

Esta história é um desassossego. Não leiam a pensar que é uma história sobre o vegetarianismo e sobre alimentação. Esta história é tão mais do que isso, ou tão pouco sobre isso.

É daquelas histórias estranhas, confusas, com muitas metáforas, mas que se entranha em nós, é um murro no estômago e, no fundo, um alerta, uma crítica séria à cultura coreana, em que as mulheres é suposto serem invisíveis, e só existem para servir os homens, egoístas e que exercem sobre elas um poder de propriedade, num total desrespeito por elas enquanto pessoas e pelos seus sentimentos.

Não era só o marido de Yeonghye que era perturbador, era toda a família, o pai por exemplo também. Tirando a irmã, aquilo era um bando de gente muito enervante, de tal modo que acho que a frase mais emblemática desta história é "Talvez uma árvore sofra menos do que um ser humano."

É uma história muito perturbadora sobre alguém que se assume como vegetariana e como isso a leva a ser internada numa instituição para doentes mentais e como a destrói completamente, depois de ser completamente ostracizada pela família.

É um livro muito marcante, apesar das poucas páginas. É uma narrativa muito melancólica, com um ritmo estranho, porque ao mesmo tempo que parece que tudo decorre lentamente, quase como se estivessemos a ver um quadro e não um filme, tem uma escrita muito fluída e que nos agarra pela estranheza em torno deste enredo e desta personagem tão sofrida.

Recomendo que leiam, apesar de deixar o aviso de que é um livro psicologicamente perturbador e algo cruel. Mas dá que pensar.

Dei-lhe 4 estrelas no Goodreads.