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Curly aos Bocadinhos

Curly aos Bocadinhos

Leitura terminada

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"Resiste. Cada dia é um milagre."

 

Demasiado tempo para ler este livro! O Verão é terrível! O calor faz-me descer a tensão arterial, ficar com as pernas inchadas e aumenta assim, para lá de muito, a minha capacidade de preguiçar. Preguiça é quase o meu nome do meio, já, mas no Verão é pior. Porque com o calor não me apetece pensar. Por isso é mais fácil vegetar em frente à TV a papar programas de encher chouriços, ou filmes, ou séries do que ler. 

E só isso justifica a demora na leitura deste livro. Porque este livro é daqueles de agarrar e não querer largar mais. Quando comecei fiquei bastante entusiasmada, mas depois meteu-se a preguiça e passaram-se vários dias em que nem olhei para ele. Anteontem disse para mim própria "Curly Maria, tu agarra-te ao livro e despacha-me aquilo!". Dei-lhe um enorme avanço, mas chegou ali a uma hora à noite em que precise de o pousar. E ontem, foi um avanço até ao final. Ou melhor...estupidamente morri na praia e caiu-me o livro no colo na altura em que fechei as pestanas, tipo a umas 10 páginas do fim! Mas quem é que adormece a 10 páginas do fim de um livro? Eu, claro!! Hoje de manhã, naturalmente, dei conta do resto.

 

Que livro, senhores! Tão bom! 

A tensão ao longo de todo o livro, ou pelo menos a partir da parte do rapto dos piratas, foi a mesma que senti ao longo do filme Captain Philips. O livro é, realmente, fantástico!

A forma como o autor narra a história é brutal. Muito presente, muito capaz de transmitir sentimentos, emoções, estados de espírito. A história faz-nos ter medo e ter raiva de pessoas tão más como todos aqueles piratas que andam por ali a fazer mal às pessoas. E, no entanto, há momentos em que temos pena deles, pelo que certamente sofreram na vida para chegarem áquilo. E, depois, ainda há outros momentos em que olhamos para eles como pessoas muito fortes, que vão buscar forças sabe Deus onde, para continuarem a viver e a não querer perder pitada disto. 

Coloca muita coisa em perspectiva e, por isso, o final não me surpreendeu. A dada altura comecei logo a pensar que o final só podia ser aquele. 

África está entregue, ainda, a muitos predadores, tiranos e genocídas. Mas estará também repleto de pessoas com esta força, com esta vida, com este orgulho, de tal modo que muda as pessoas que lá chegam de novo.

 

Preparem-se é para uma escrita ligeiramente pesada, com algumas palavras assim fora do comum. E para se emocionarem, também. Mas recomendo. Muito!

 

"A solidão é uma morte lenta"

"Viver é correr riscos todos os dias"

"(...) os homens são o que a natureza engendrou de pior e de melhor; uns morrem por um ideal, outros por nada; uns morrem da sua generosidade, outros da sua ingratidão; dilaceram-se entre si pelas mesmas razões, cada um no seu campo, e nesta ignóbil encenação, a ironia da sorte vai brincando até reconciliar, numa mesma fossa pútrida, o iluminado e o entenebrado, o virtuoso e o perverso, o mártir e o torcionário, entregues à morte eterna como siameses no ventre da mãe."

 

"Que aprendemos verdadeiramente daquilo que acreditamos saber? Hábitos? Automatismos? O trabalho durante a semana e as tréguas nos dias de descanso? Que sabemos das pessoas que cumprimentamos de manhã e que saem do nosso quotidiano mal desaparecem na esquina da rua? Se viver se limitasse a existir só para si, que teria eu a mais do que as árvores que se desnudam no Inverno e se cobrem na Primavera ao passo que eu faço o contrário?"

"Um provérbio africano diz : "Aquele que não sabe que não sabe é uma calamidade..." "

 

"Vive cada manhã como se fosse a primeira

E deixa ao passado os remorsos e as más acções,

Vive cada noite como se fosse a última

Porque ninguém sabe de que será feito o amanhã."