Leitura terminada
Aleluia!!!
Uma vergonha, uma vergonha, eu sei. Shame on me, tanto tempo para ler um livro, tantos dias sem conseguir ler. Mas é assim, temos dias de muito cansaço, de quase esgotamento mental, por razões que nem se entendem bem, e ler torna-se complicado porque exige mais concentração.
Andava aqui há que tempos com as últimas 100 páginas para despachar e nunca mais! Hoje agarrei-me a ele e decidi que tinha de ser. Feito!
A história deste romance desenrola-se principalmente na Argélia entre os anos 30 e 2008. Na minha já assumida estupidez em termos de geografia e assuntos políticos de certas zonas do planeta, mais uma vez vi-me obrigada a consultar um motor de busca, para localizar certos locais no mapa. Não sabia dizer de repente onde fica no mapa a Argélia. Muito menos onde fica Rio Salado ou Orão.
A personagem principal é Younes/Jonas, um jovem rapaz que vai sofrendo desde tenra idade certas fatalidades, até que se vê afastado dos seus pais e irmã para ir viver com os seus tios. Acompanhamos a sua infância, adolescência e idade adulta, sempre repleta de momentos conturbados e de romances impossíveis.
Younes vai-nos também descrevendo os problemas políticos e militares que vão assolando o país, nomeadamente a luta pela independência nos anos 50-60. Uma luta ligada ao confronto entre colonizadores e colonizados e entre cristãos e muçulmanos. Neste aspecto sentimo-nos muito dentro da história pela forma como Yasmina descreve os acontecimentos e os sentimentos das pessoas.
Em suma, este livro é-nos apresentado como um romance mas, na verdade, nada vai para além de amores platónicos, por uma qualquer dificuldade, às tantas inexplicável, de Younes declarar os seus sentimentos. Portanto, para mim este livro acabou por ser mais uma descrição de geografia e de um pedaço da História. Faltou-me, de facto, aquela parte que me faria olhar para este livro mais como um romance. Talvez seja apenas um romance carregado de nostalgias, de recordações e de sentimentos recalcados.
Contudo, apesar de ser um livro que pede para ser lido devagar, para ser saboreado mais lentamente, é um livro fascinante porque Yasmina tem aquela forma de escrever tão interessante e cheia de profundidade.
Algumas citações:
"A vida é uma aprendizagem permanente; quanto mais pensamos saber, menos sabemos, a tal ponto as coisas mudam e, com elas, as mentalidades."
"Como as perguntas não têm resposta, habituamo-nos às que nos convêm."
"Não te esqueças do que diz o Alcorão: Quem matar uma pessoa matará toda a humanidade."
[sobre os Árabes] "Não somos preguiçosos. Limitamo-nos a aproveitar o tempo para viver. O que não é o caso dos Ocidentais. Para eles, o tempo é dinheiro. Para nós, o tempo não tem preço. Basta-nos um copo de chá para sermos felizes, ao passo que, para eles, não há felicidade que baste."
"Os olhos podem mentir, mas o olhar não (...)"
"- Se uma mulher te amar, Younes, se te amar profundamente, e tu tiveres a presença de espírito para avaliar a extensão desse privilégio, nenhuma divindade te chegará aos calcanhares."
"- O tempo não tem idade, Dédé. Nós é que envelhecemos."
Obrigada à Bizâncio por esta oportunidade. Sem dúvida, mais um livro extremamente enriquecedor!