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Curly aos Bocadinhos

Curly aos Bocadinhos

Sobre a ansiedade...


Uma pessoa pensa sempre que certas coisas só acontecem aos outros e que nunca vamos sofrer de certos males. Vai daí, um dia damos conta de que também nos chega. Descobri que sofro de ansiedade já há algum tempo, mas já foi depois de o Marcos ter nascido. Quando os sintomas começaram, não sabia o que era. Até que fui ao médico dizer que não conseguia dormir. Com algumas perguntas de despiste, lá veio o diagnóstico: a senhora sofre de ansiedade.
Então e por que é que uma pessoa sofre de ansiedade?
Não é fácil encontrar as causas, é um bocado como tentar encontrar a razão para uma depressão. É um conjunto de coisas, tudo tão embrulhado, que para desatar é complicado. Tentam-se umas consultas de psicologia, não ajuda muito, tomam-se umas coisas para andar controlado, ajuda um pouco, mas dilui-se no tempo.  E o tempo passa e uma pessoa continua a não se sentir bem.
Então e o que se sente com isto da ansiedade?
Um dos principais sintomas que tenho é o de ter há anos o sono desregulado. Às vezes é um bocado por fases, mas é frequente a fase do mau sono, do sono nada reparador. Uma pessoa vai para a cama, até a horas decentes e das duas umas, ou não consegue pegar no sono e tem às vezes insónia, ou até pega no sono a horas decentes mas, seja dia da semana seja fim-de-semana, esteja-se mais ou menos cansado, é sempre o mesmo filme. Chega ali a uma certa hora, acorda-se com uma sensação de pânico, uma dor no peito que perdura umas horas ou um dia inteiro, e não se consegue voltar a adormecer.
Nas minhas férias de Julho acordei todos os dias às 7 da manhã, independentemente da hora a que adormecesse. Depois parece que melhorei um pouco. Nas últimas semanas, a hora do pânico tem variado entre as 4h30 e as 6 da manhã. Considerando que agora na silly season tenho o despertador para as 7 e que, ao fim-de-semana, podia acordar tipo às 10h ao sábado (para ir ao ginásio) e até podia acordar mais tarde ao domingo. Só que não.
Podem dizer que se calhar é o relógio biológico. Até pode ser em parte. Uma pessoa força durante anos o corpo e o cérebro a acordar a uma hora programada e depois o cérebro aceita isso naturalmente. Mas nunca tive despertador programado para as 4h30 ou 5 da manhã.
E o relógio biológico deveria ser algo que nos permitia sentirmo-nos bem. Se é o meu relógio biológico, então porque me sinto sempre tão cansada? Porque sinto os meus índices de concentração, de capacidade de raciocínio, de memorização a irem pelo cano? Isso não quererá dizer que precisava de dormir mais?
Aqui há dias adormeci já perto da 1 da manhã e acordei às 4h30 para não dormir mais. Como é óbvio, fiquei de rastos o resto da semana. Porque aqui não há o “ah e tal, na noite seguinte recupero”. Não, na noite seguinte deitei-me um pouco mais cedo, mas, 5 da matina lá estava eu de pestana aberta.
Então e em que pensa uma pessoa com ansiedade? Em merdas! Em muitas merdas! Merdas sem interesse nenhum, muito sofrer por antecipação com coisas completamente fora do nosso controlo. Então, e explicar ao cérebro que não precisa de se preocupar? Era bom! Mas não é fácil.
São preocupações parvas com os miúdos, é estar constantemente com medo de que me aconteça alguma coisa a mim ou ao Semi-Deus ou aos miúdos, é medo de que aconteça algo aos nossos pais e irmãos, é estar sempre com medo de perder o emprego, é estar sempre com medo de atentados terroristas, é ficar em pânico com tarefas simples que demoram 2 minutos, porque parece que nos sentimos incapazes de fazer coisas mínimas, é ter ataques de pânico no carro, especialmente quando não sou eu a conduzir, é uma merda.
E depois é o ciclo, não dormir porque se sente ansiedade/pânico e sentir mais ansiedade/pânico porque não se dorme. E andamos nisto.
E é dizermos a nós próprios todos os dias “não se passa nada, só quero é dormir bem” e quando nos sentimos adormecer sentimos aquela felicidade do “ah, chegou o soninho, que bom, é esta noite que vou descansar bem” e depois, quando aquela dor no peito nos arranca dos braços de Morfeu, olhamos para o relógio e só apetece gritar.
Pensar nas horas que ainda podíamos dormir e não conseguimos. Porque ficamos ali, na cama, às voltas, a tentar ao máximo conciliar o sono, fazendo uma respiração pausada, limpando o cérebro de pensamentos. Só que não acontece, sempre que penso que o cérebro fica limpo, abrem-se 16354 tabs ao mesmo tempo. Nem consigo ter uma linha de raciocínio seguida, é tudo fragmentos de merdas que eu nem sei de onde vêm. Nem quero que venham.
Pensa-se muito na morte. Porque como se tem pânico a toda a hora que aconteça alguma coisa, obviamente que se pensa na morte. Não querer que aconteça nada aqueles a quem queremos bem. Pensar na nossa própria morte. Ter uma conversa com o Semi-Deus sobre os meus termos quando chegar esse dia para mim. Porque precisei de desabafar e de garantir que ele sabia que eu não quero ser enterrada. Merdas estúpidas.
Fora o impacto que também tem na vida amorosa. A falta de líbido, a tensão do corpo, o estado de irritação, o impacto na auto-estima. Felizmente, tenho ao meu lado uma pessoa com algum poder de encaixe. Mas acho que deve ter muitos dias em que lhe deve apetecer é dar-me uma lambada para ver se me passa.
É tudo uma grande porcaria e eu só gostava que esta porra da ansiedade me deixasse em paz que eu não a convidei para a minha vida. Pelo menos, não conscientemente.

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